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RESENHA: HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DE SURDOS NO MUNDO

Nesse breve resumo histórico ficam evidente os avanços e retrocessos no tratamento dos surdos. Na maior parte do tempo requereu-se que os surdos de adaptassem, se adequassem e se sujeitassem à sociedade, pois eles tinham um “problema” que precisava ser reparado. Desde a ideia de que não eram humanos, não possuíam alma e eram retardados, até exercerem o direito de possuírem uma linguagem própria (língua de sinais) foi um grande esforço.





INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO PARÁ
CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA




Resenha crítico-descritiva




História da Educação de Surdos no Mundo



Elderson Luciano Mezzomo[1]



O autor(a) inicia abordando o surdo na antiguidade, o qual, conforme conceito de Aristóteles de que o ouvido era o órgão mais importante para a educação, era tido como incapacitado, não humano. A ideia católica de que o homem fora criado “à imagem e semelhança de Deus” fortaleceu a marginalização dos surdos considerados não humanos. No entanto, os surdos filhos de famílias abastadas incomodaram a igreja, levando-a a tentativas de comunicar-se através de gestos para que pudessem participar do ritos eclesiásticos e manterem suas almas imortais.

Na idade moderna iniciam-se os primeiros registros sobre a educação de surdos no intuito de integrá-las a sociedade. Alvo de pesquisas científicas no século XV e da caridade da igreja sobre pessoas “punidas” pela doença da surdez, os surdos só começaram a receber educação no século XVI com médico Gerolamo Cardamo e o monge Pedro Ponce de Leon.  Os aluno surdos de Leon se destacaram em Filosofia, História e Matemática, difundindo seu trabalho pela Europa. Os primogênitos dos nobres começaram a ser educados, já com o conceito revolucionário de que a “compreensão das ideias não dependia da audição das palavras”, pois se aprendessem a falar teriam direito à herança da família. Destacou-se também nesse período o tratado de ensino “Redação das Letras e Artes de Ensinar os Mudos a Falar” do padre Juan Pablo Bonet, idealizador do alfabeto manual. Outras propostas surgiram como de Van Helmont (oralização pela língua hebraica), Jacob Rodrigues Pereira (desmutização da visão utilizando um alfabeto digital especial e manipulação dos órgãos da fala), Johann Conrad Amman (aperfeiçoamento da leitura labial), etc. Devido ao grande interesse e rentabilidade, foram criadas escolas especiais para surdos, destacando-se a de Thomas Braidwood (século XVII) que utilizava ambas as mãos, o que perdura até hoje. Abade Charles-Michel de L´Epée ficou conhecido como “Pai dos surdos” pela sua filantropia, seu método privilegiava a língua de sinais e sua obra mais importante foi “A verdadeira Maneira de Instruir os Surdos-Mudos”. Século XVIII foi considerado um tempo de prosperidade da educação dos surdos, pois, através da língua de sinais eles puderam “dominar diversos assuntos e exercer diversas profissões”.

Na idade contemporânea a ênfase passou de alguns cientistas e monges para as instituições, cujas pesquisas se voltavam para a diminuição da surdez, inclusive com experiências que levaram à morte algumas pessoas. O foco estava na oralização, pois se acreditava que a linguagem de sinais era muito “pobre” e insuficiente para educar, o que ocasionou, inclusive, o afastamento de professores surdos. Dentre as instituições especializadas encontram-se: Instituto Nacional de Surdos-Mudos (França), Escola Pública para Surdos (Hartford School, 50 anos depois) e Faculdade para Surdos (em Washington). Esta ênfase no oralismo perdurou durante 80 anos, até mesmo a invenção do telefone (por Alexander Graham Bell) era, a princípio, uma tentativa de criar um dispositivo para os surdos ouvirem. Em 1878, em Paris, realiza-se o I Congresso Internacional de Surdos-Mudos, instituindo como melhor método de educação de surdos a “articulação com leitura labial e no uso de gestos”. Já no II Congresso (1880) aboliu-se o uso da Língua de Sinais, instituindo a obrigatoriedade do método oral puro.

No século XX finalmente o fracasso do método da oralidade pura fora notada, pois intencionava obrigar os surdos, indifente às limitações físicas e biológicas, a se “normalizarem”, considerando os que não se adaptavam ao oralismo como “retardados”. A partir de 1970 o uso dos sinais voltou a ser aceito como manifestação linguística devido à nova metodologia da Comunicação Total, que incluem a linguagem oral e sinalizada simultaneamente. Atualmente o método mais utilizado é o Bilinguismo (Língua Brasileira de Sinais e a Língua Portuguesa Escrita).

Historicamente, no Brasil, Hernest Huet deu origem à Língua Brasileira de Sinais (derivada do alfabeto manual francês) no século XIX, criando o atual INES (Instituto Nacional de Educação dos Surdos). Seu método era focado na oralidade, pois considerava mais relevante falar do que escrever (num país onde a maioria era analfabeto). Outros diretores conduziram a instituição: Tobias Leite (ênfase na profissionalização dos surdos), Armando Paiva Lacerda (oralidade e distribuição por aptidões para aprender, divisão em classes) e, em 1951, Ana Rímoli de Faria Dória (oralismo e a implementação do Curso Normal de Formação de Professores para Surdos). Em 1970 (com a visita de Ivete Vasconcelos-Universidade Gallaudet) chega ao Brasil a filosofia da Comunicação Total e desenvolve-se paralelamente o Bilinguismo (com Lucinda Ferreira Brito e Eulalia Fernandes). Dentre outras instituições, destacam-se no Brasil: o Instituto Santa Teresinha, Escola Municipal de Educação Especial Helen Keller e Instituto Educacional São Paulo (todos em São Paulo).

Nesse breve resumo histórico ficam evidente os avanços e retrocessos no tratamento dos surdos. Na maior parte do tempo requereu-se que os surdos de adaptassem, se adequassem e se sujeitassem à sociedade, pois eles tinham um “problema” que precisava ser reparado. Desde a ideia de que não eram humanos, não possuíam alma e eram retardados, até exercerem o direito de possuírem uma linguagem própria (língua de sinais) foi um grande esforço. A insistência em torna-los “normais” através da oralidade significou um sacrifício, especialmente pelo período em que foram tolhidos do uso da linguagem de sinais. Atualmente se vislumbra um grande avanço social, no sentido de não se exigir que se adaptem à sociedade sob quaisquer circunstâncias, mas que a sociedade também se adapte a eles e compreendam sua linguagem própria. Afinal, não são piores nem melhores, mas apenas diferentes.



[1] Acadêmico do 6o. semestre do curso de Licenciatura Plena em Pedagogia pela IFPA – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará. Disciplina: Introdução a Língua Brasileira de Sinais. Professora: Gislainy Ferreira Fernandes.

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