O caráter íntegro de Jesus pode ser abordado e subdividido de muitas maneiras, mas neste escopo se fará uso das características do fruto do Espírito dada por Paulo em Gálatas 5:22, que foi subdividido em três áreas por Stott: a atitude “para com Deus, outras pessoas e ele mesmo”[1]. A abordagem será limitada às “profecias-cumprimentos” dos livros de Isaías e do evangelho de Mateus.
Seminário Teológico Batista Equatorial
Integridade do caráter de jesus
Por
Elderson Luciano Mezzomo
Rurópolis, 2004
Seminário Teológico Batista Equatorial
Curso de Mestrado em Teologia
Por Elderson Luciano Mezzomo
Integridade do caráter de jesus
Trabalho apresentado à disciplina
Integridade Ministerial,
como requisito de avaliação orientado pelo professor
Ms. Ananias Oliveira
“Dá instrução ao sábio, e ele se fará mais sábio;
ensina o justo, e ele crescerá em entendimento.”
Provérbios 9:9
Sumário
Sumário 04
Ponto Inicial – Introdução, Metodologia e Pressupostos 05
I. Amor, Alegria e Paz 06
II. Longanimidade, Benignidade e Bondade 08
III. Fidelidade, Mansidão e Temperança 10
Conclusão 12
Ponto Inicial – Introdução, Metodologia e Pressupostos
A apresentação deste escrito se dá devido a grande necessidade atual de cristãos “de caráter”, especialmente líderes que possuam integridade. Infelizmente está se tornando comum deparar-se com líderes que “caíram” e “ex-pastores” que abandonaram a fé que tanto pregaram, como também a descoberta de escândalos envolvendo-os.
Dentre tantas razões que levou a esta situação, uma delas é a falta de modelos saudáveis que servissem de exemplos. Nesse âmbito, a proposta é que Jesus sirva como modelo e exemplo máximo a ser seguido, pelo menos em dois sentidos: na Sua integridade em cumprir as profecias do Antigo Testamento (obediência à Palavra) e na Sua integridade de um caráter puro e completo (perfeito).
O primeiro sentido não será difícil demonstrar, pois basta uma lida rápida nos evangelhos e ficará evidente, como relatado pelos próprios evangelistas, o cumprimento de Jesus às profecias. Já o segundo será abordado dentro das próprias profecias como inferências implícitas e algumas vezes, explícitas.
O caráter íntegro de Jesus pode ser abordado e subdividido de muitas maneiras, mas neste escopo se fará uso das características do fruto do Espírito dada por Paulo em Gálatas 5:22, que foi subdividido em três áreas por Stott: a atitude “para com Deus, outras pessoas e ele mesmo”[1]. A abordagem será limitada às “profecias-cumprimentos” dos livros de Isaías e do evangelho de Mateus.
I. Amor, Alegria e Paz
“14 para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta Isaías, que diz: 15 A terra de Zebulom e a terra de Naftali, junto ao caminho do mar, além do Jordão, a Galiléia das nações, 16 o povo que estava assentado em trevas viu uma grande luz; e aos que estavam assentados na região e sombra da morte a luz raiou.” Isaías 9:1-2 e Mateus 4:14-16[2]
Jesus, após a morte de João retirou-se da Judéia para o norte, para região da Galiléia, “para que se cumprisse o que fora dito pelo profeta Isaías”. O amor de Jesus ao Pai é facilmente observável em sua obediência à Sua Palavra, basta ler o contexto imediato, a sua tentação no deserto (Mt 4:1-11), na recusa em desobedecer e usar seu poder para benefício próprio. Pode-se levantar a seguinte questão: Jesus cumpriu conscientemente a profecia de Isaías ou o evangelista a interpretou postumamente? Para o próprio evangelista Jesus conhecia perfeitamente a Palavra de Deus (Mt 22:29), e por esse ângulo é fácil compreender o cumprimento dessas profecias.
Não pode passar despercebido o fato de os povos que viviam nessa região serem pagãos, ou seja, era a “Galiléia dos gentios”, o que, para um Judeu, seria complicado obedecer (lembre de Jonas em Nínive), e muito menos com alegria e paz! No verso 17 de Mateus 4, fica claro a paz de Jesus em substituir a função de arauto do Senhor de João Batista, que fora preso, paz esta que é “muito diferente da noção geral de paz, visto ser uma possessão interna que traz consigo a serenidade mental.”[3] “O conteúdo da mensagem de arauto do Senhor é literalmente o mesmo da palavra de João: ‘Arrependei-vos’.”[4]
Diante da firmeza de Jesus em demonstrar seu amor a Deus dando continuidade à pregação, com risco de sua própria vida, o evangelista aplica o restante da profecia de Isaías dizendo que o povo “viu uma grande luz” e sobre eles, nas regiões da “sombra da morte a luz raiou”.
O amor, a alegria e a paz são, em primeiro lugar: “seu amor à Deus, sua principal alegria é a sua alegria em Deus e a sua paz mais profunda é a sua paz com Deus”[5]. Quando as pessoas baseiam seus relacionamentos no amor, e não no poder, elas terão condições de dar aos outros o melhor de si mesmas. O amor permite que o indivíduo tenha esperanças, as busque e enfrente as adversidades. A alegria e a paz representam a força e a firmeza de caráter, sinceridade e honestidade. Uma pessoa em paz consigo mesma e com Deus mantém sua palavra, é íntegra, correta, honesta e sincera.
II. Longanimidade, Benignidade e Bondade
“17 para que se cumprisse o que fora dito pelo profeta Isaías, que diz: Ele tomou sobre si as nossas enfermidades e levou as nossas doenças.”
Isaías 53:4 e Mateus 8:17
Jesus havia feito uma série de exortações (conhecido como o sermão do monte), e agora, no capítulo 8, Mateus passa a descrever curas realizadas por Cristo. O interessante neste episódio é a longanimidade de Jesus em atender a solicitação dos necessitados, pois “é o mesmo Redentor que ainda hoje e em todos os tempos está a disposição dos possuídos, dos cativos e dos que sofrem.”[6]
Pode-se imaginar o desgaste físico e emocional que a multidão impunha a Jesus, e mesmo assim ele mantinha a paciência procurando sempre o bem daqueles que necessitavam, mesmo, muitas vezes, sendo perseguido!
A bondade e a benignidade são inegáveis em Jesus, além de curas que realizava, promovendo assim o bem estar das pessoas, há algo ainda mais importante que é sua morte no Gólgota. Segundo Lutero:
“parece que Mateus não cita o versículo de Isaías no seu sentido real, porque Isaías fala dos sofrimentos de Cristo e não da restauração dos enfermos. Porém, deve-se responder a isso que Mateus traz o Isaías do Cristo inteiro em todos os seus atos, isto é, não apenas a parte do sofrimento de três dias, mas a vida toda de Cristo”.[7]
Isso significa que ele levou sobre si o sofrimento demonstrando compaixão, especialmente em sua morte vicária, mesmo muitos não aceitando a sua oferta sacrificial.
Stott classifica essas virtudes como sociais, pois, são principalmente voltadas para os outros e não para Deus. “Longanimidade é paciência para com aqueles que nos irritam ou perseguem. Benignidade é uma questão de disposição, e bondade refere-se a palavras e atos”.[8]
Dar continuidade a suas decisões através de atos que o levem a alcançar o decidido, não se sentir zangado com alguém que o machucou ou enganou, perdoar ou desculpar uma ação ou pensamento errado e relacionar-se de forma adequada com os demais membros de sua sociedade são características evidentes de Jesus.
III. Fidelidade, Mansidão e Temperança
“17 para que se cumprisse o que fora dito pelo profeta Isaías, que diz: 18 Eis aqui o meu servo, que escolhi, o meu amado, em quem a minha alma se compraz. Farei repousar sobre ele o meu Espírito, e ele anunciará juízo aos gentios. 19 Não contenderá, nem gritará, nem alguém ouvirá nas praças a sua voz. 20 Não esmagará a cana quebrada, nem apagará a torcida que fumega, até que faça vencedor o juízo. 21 E, no seu nome, esperarão os gentios.”
Isaías 42:1-4 e Mateus 12:17-21
Fidelidade consiste na consecução de ações e decisões quando se julgar necessário. Relacionados com a fidelidade estão a iniciativa, a generosidade, a coragem e a motivação. A mansidão implica em mostrar consideração às pessoas escutando-as, sendo cortês e educado; em relação a si mesmo, inclui auto-respeito e autocrítica. Mansidão é uma forma de honrar, e ser honrado, pelos demais. Relacionados com a mansidão estão a paciência, o respeito, a tolerância e a cortesia. E por fim, a temperança faz com que indivíduos, famílias e grupos sociais se beneficiem quando cada um conhece suas responsabilidades perante os demais. Relacionados com a temperança estão a disciplina, a responsabilidade e a estima. “Fidelidade parece descrever a certeza de se poder confiar em uma pessoa. Mansidão é aquela atitude de humildade que Cristo tem. E ambas são aspectos do auto-controle ou domínio próprio.”[9]
Jesus demonstra imenso domínio da situação ao se afastar dali e evitar a publicidade (v 15).
“É admirável como o Senhor demonstra a prudência recomendada aos discípulos no cap. 10. Quando Jesus soube dos planos homicidas dos seus adversários não os enfrentou apelando atrevido ao socorro de Deus, fazendo valer o direito de receber ajuda divina. (...) Isso acontece numa proporção tal que Mateus é impelido a lembrar Isaías 42:1-4, onde o profeta afirma que a obra do servo de Deus Salvador se realiza no silêncio, sem alvoroço e sem apelações propagandistas.”[10]
O domínio próprio equivale ao “domínio sobre os desejos do ego”[11], o que em Jesus, o exemplo se torna por demais interessante, pois, “jamais enfatizou sua própria vontade, mas nunca deixou de impressionar os demais com o poder da sua personalidade”.[12]
Ele levará o direito e a justiça a todos os povos por meio de seu sofrimento e morte. Mansamente obediente ao Pai ele “não esmagará a cana quebrada, nem apagará a torcida que fumega, até que faça vencedor o juízo”.
Mateus evoca, “a partir da profecia de Isaías, não somente que Jesus se retira para o silêncio por causa da inimizade dos líderes de Israel, mas também que seu nome se torna famoso entre os povos gentios.”[13] Entretanto, a humildade de Cristo em não divulgar “seus poderes” é explícitas nas palavras do verso 19: “Não contenderá, nem gritará, nem alguém ouvirá nas praças a sua voz.”
Finalmente, pode-se dizer que Jesus, diante de todas as suas qualidades de caráter e integridade, é o “amado de Deus”, o amado em que Deus teve prazer.
Conclusão
Diante do grande exemplo de Cristo em Sua integridade ao cumprir as profecias e diante do seu caráter reto e puro, duas aplicações devem ser feitas:
1º Assim como Jesus cumpriu as profecias a Seu respeito, os ministros para manterem sua integridade diante do Senhor, devem atentar em muito à Sua Palavra, no sentido de serem fiéis cumpridores, obedientes à voz do Senhor.
2º A integridade ministerial se torna possível à medida que o ministro aproxima-se do caráter de Cristo, imitando-O e buscando seguir Seu exemplo, para que possa dizer como Paulo: “Sede meus imitadores, como também eu de Cristo” (I Co 11:1).
[1] Stott, John R. W. A mensagem de Gálatas. Traduzido por Yolanda Mirdsa Krievin. São Paulo: ABU, 2000. página 135
[2] Os textos Bíblicos citados são do Evangelho de Mateus na versão Revista e Corrigida da SBB.
[3] Guthrie, Donald. Gálatas: introdução e comentário. Traduzido por Gordon Chow. São Paulo: Sociedade Religiosa Vida Nova e Associação Religiosa Mundo Cristão, 1992. Página 179
[4] Rienecker, Fritz. Evangelho de Mateus. Traduzido por Werner Fuchs. Curitiba: Editora Evangélica Esperança, 1998. página 73
[5] Stott op.cit., página 135
[6] Rienecker op.cit., página 138
[7] Ibidem, página 138
[8] Stott op.cit., página 135
[9] Stott op.cit., página 135
[10] Rienecker op.cit., página 204
[11] Guthrie op.cit., página 180
[12] Ibidem, página 180
[13] Rienecker op.cit., página 205