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EXEGESE DE JUDAS

O presente será composto de três partes: uma breve introdução à epístola, uma análise exegética e por fim, um comentário geral, à luz da exegese feita.


Seminário Teológico Batista Equatorial





















Exegese de Judas




Por

Elderson Luciano Mezzomo















Rurópolis, 2004



Sumário






Sumário                                                                                                                             02

Prefácio                                                                                                                            03

Introdução À Carta                                                                                                      04

Análise Verso Por Verso                                                                                             05

Comentário Final                                                                                                          11

Bibliografia                                                                                                                    13


Prefácio

O presente será composto de três partes: uma breve introdução à epístola, uma análise exegética e por fim, um comentário geral, à luz da exegese feita.

A introdução à carta contemplará os elementos básicos, na medida do possível, de uma introdução, tais como autor, data, propósito e destinatários, sem a pretensão de abordar exaustivamente todas as possibilidades, e muito menos resolver as questões polêmicas desses aspectos.

Já a exegese, singularmente aqui, será realizada a partir do texto em grego seguida de sua tradução literal, com um comentário que visa destacar dentro do contexto a qualidade e o tempo dos verbos, bem como o uso destacado e diferente de alguns vocábulos, funções do genitivo, etc. As variações textuais mais importantes, que afetam com muita relevância a compreensão da epístola, também serão tratadas. Elas (variações textuais) serão apresentadas da seguinte forma: 1) a variante em grego e sua respectiva tradução literal; 2) as principais testemunhas acompanhadas de data e tipo de texto, para análise tanto da antiguidade, como da qualidade. 3) O comentário sobre a variante mais adequada.

E por fim, à luz da exegese feita, a epístola contará com uma explicação geral baseada neste trabalho.


Introdução à Carta

O autor da carta de Judas era, provavelmente, “um cristão judeu, pois revela conhecer escritos como a Assunção de Moisés e o Apocalipse de Enoque”.[1] Ele se identifica como “Judas, servo de Jesus Cristo e irmão de Tiago” (v. 1), mesmo ele não definindo qual Tiago se refere, em geral se aceita que deve ser o Tiago irmão de Jesus, pois “na igreja primitiva não havia nenhum outro Tiago tão proeminente a ponto de ser mencionado sem qualificações”,[2] especialmente “após a morte de Tiago, filho de Zebedeu (44 d.C.), somente um Tiago poderia ser referido dessa maneira absoluta: ‘Tiago, o irmão de nosso Senhor’, como Paulo o chama (Gl 1:19)”.[3] Assim como seu irmão Tiago (autor de Tiago), Judas não prerrogou autoridade, em virtude de sua relação natural com Jesus, mas, com o espírito cristão de humildade, decidiu assumir a mesma posição dos demais cristãos: “servo de Jesus Cristo”. O testemunho externo também aponta na mesma direção da autoria de Judas, como bem resume Hale:
“Há traços de Judas 22,23 a serem encontrados já na data do Didaquê, e outras alusões estão em Hermas e Policarpo. Mais tarde, Atenágoras, muito provavelmente, cita material proveniente desta carta. Ela está incluída no Cânon Muratoriano, e Clemente de Alexandria a inclui em seu esboço de livros aceitos. Tertuliano e Orígenes a citam pelo nome. Ela está incluída, juntamente com I e II Pedro, no manuscrito do terceiro século, Papiro Bodmer VII e VIII, p72. Atanásio colocou-a em sua lista de livros recebidos, e o Terceiro Concílio de Cartago reconheceu-a como genuína.”[4]
Portanto, com a forte atestação da igreja primitiva e a auto-identificação do próprio autor, afirma-se que o autor é “Judas, servo (meio-irmão) de Jesus Cristo e irmão de Tiago”.
Quanto à questão da data em que foi escrita, há apenas conjecturas. Baseado no fato de Judas ser o meio irmão de Jesus e irmão de Tiago, deve ser colocada no I século, antes da morte de Judas. Há uma interessante tradição que “Eusébio (H.E., III, xix) preserva (...), acerca de dois netos de Judas terem sido chamados perante o Imperador Domiciano, porque eram da linha da família real de Davi”,[5] como Judas não foi convocado na época (Domiciano foi imperador de 81 a 96), conclui-se que não estava vivo nessa ocasião. Alguns críticos querem datá-la de forma bem tardia usando o argumento que Judas olhava para traz no verso 17 quando se referia aos apóstolos, o que é derrubado no verso seguinte (18) com a frase “os quais vos diziam”. Outra conjectura alegada é a ausência de referência a destruição do Templo de Jerusalém, ao referir-se a exemplos de juízo divino das cidades de Sodoma e Gomorra (v.7), o que favorece uma data por volta de 70 d.C.
A Epístola foi escrita para os cristãos do I século, aos “chamados, amados em Deus Pai e guardados em Jesus Cristo”. Sobre os destinatários e o local (o que poucos se arriscam a fazer), Halley sugere a possibilidade de ter sido endereçada “às mesmas igrejas que, ao que parece de II Pe 3:1, eram aquelas às quais I Pe fora dirigida, que ficavam na Ásia Menor, I Pe 1:1”.[6] Judas intentava escrever uma declaração geral sobre o Evangelho, na qual parecia “ter interesse pessoal e pastoral, v. 3, quando notícias de súbito aparecimento de uma heresia assoladora dispuseram-no a expedir esta enérgica advertência, v. 3,4”.[7] Seu propósito não foi tanto condenar, mas advertir.


Análise Verso Por Verso

1   ¹Iou/daj  ¹Ihsou=  Xristou= dou=loj, a)delfo\j de\  ¹Iakw¯bou, toiÍj e)n qe%½ patriì h)gaphme/noij kaiì  ¹Ihsou=  Xrist%½ tethrhme/noij klhtoiÍj:
Judas de Jesus de Cristo servo, irmão (compatriota) também de Tiago, aos em Deus Pai amados e em Jesus Cristo guardados (reservados, preservados) chamados

Judas se “identifica como o escritor, descreve seu relacionamento com Cristo e Tiago, e define seus leitores, tudo em uma só sentença”.[8] Jesus Cristo é um título comum no Novo Testamento, o termo Cristo (Messias) passou a incorporar o nome de Jesus. Já o genitivo de posse em relação a Judas como “servo”, denota seu relacionamento de escravo comprado pelo sangue de Jesus, como é usado freqüentemente por Paulo em seus escritos. “Irmão” diz respeito a seu relacionamento sanguíneo com Tiago e Jesus (por tabela). Ele passa a descrever seus destinatários como amados (santificados?)[9] com o tempo perfeito, sugerindo que “eles tinham sido e continuavam sendo objeto do amor de Deus”;[10] semelhantemente, guardados traz a idéia permafeita, sugerindo o cuidado contínuo até a volta de Cristo (“em Cristo” também pode ser traduzido “para Cristo”). “Chamados” é um adjetivo verbal que demonstra a qualidade dos cristãos como “os que são por Deus amados”, implicando que ainda não foram seduzidos pelo erro (cf. mais adiante). Portanto fica evidenciada a “soberania de Deus e a centralização em Cristo”.[11]

As variações textuais com suas respectivas leituras e avaliação[12]:
1)      h)gaphme/noij (amados)
Principais Testemunhas: Papiro p72 (III e IV – Alexandrino); Unciais ) (IV – Alexandrino), A (V – Alexandrino), B (IV – Alexandrino), Y (VIII – Alexandrino); Minúsculos 81 (1044 – Alexandrino), 436 (XI – Alexandrino), 1067 (XIV – Alexandrino), 1241 (XII - Alexandrino), 1243 (XI - Alexandrino), 1292 (XIII - Alexandrino), 1505 (XII - Alexandrino), 1611 (XII - Alexandrino), 1739 (X - Alexandrino), 2138 (1072 - Alexandrino), 1409 (XIV - Alexandrino), 1846 (XI - Alexandrino), 2298 (XII – Alexandrino); Lecionário 596 (1146), 1441 (XIII); Versão Latina Ardmachanus (IX – Ocidental); Versão Vulgata (IV e V – Ocidental); Versão Siríaca Filoxeniana (507-508 – Alexandrino e Ocidental) e Harcleano (VII – Alexandrino e Ocidental); Versão Copta Saídico (III – Alexandrino) e Boháirico (III – Alexandrino); Versão Armênia (V - Oriental); Versão Etíope (VI – Ocidental); Pais da Igreja Orígenes (253-254 – Alexandrino), Lúcifer (370-371 – Ocidental).
2)      hgiasmenoij (santificados)
Principais Testemunhas: Unciais K (IX – Bizantino), L (IX - Bizantino) e P (V – Bizantino); Minúsculos 322 (XV – Alexandrino), 323 (XI – Alexandrino), 1881 (XIV – Alexandrino), 945 (XI – Alexandrino), 1175 (XI – Alexandrino), 1735 (XI/XII – Alexandrino); a maioria dos manuscritos bizantinos; a maioria dos lecionários no Sinaxarião e no Menologião; Versão Eslava Antiga (IX).
A primeira variação é mais bem atestada que a segunda. “Amados” é atestado pelo mais antigo texto preservado de Judas (p72 Papiro Bodmer), pela quantidade de manuscritos antigos, por um grande número de manuscritos Alexandrinos (em detrimento dos bizantinos da segunda opção, o que é notável, pois, pela sua brevidade e polidez são mais fiéis aos originais), por uma vasta cobertura geográfica (incluindo textos ocidentais e orientais) e pelos Pais da Igreja (Lúcifer e Orígenes). Levando também em consideração a classificação da 4ª Edição de “The Greek New Testament”, cujos editores descrevem o texto indicando-o como certo (A), e o uso que o próprio autor faz da palavra “amados” nos versos 3 e 17, conclui-se que o primeiro termo (h)gaphme/noij) é bem mais atestado que o segundo (hgiasmenoij).

2 eÃleoj u(miÍn kaiì ei¹rh/nh kaiì a)ga/ph plhqunqei¿h.
misericórdia a vós e paz e amor sejam multiplicados.

O desejo (modo optativo) de Judas é que a misericórdia, a paz e o amor de Deus sejam aumentados, ou seja, que eles as recebam ricamente (pois não são atributos que procedem deles e sim de Deus, e de modo crescente). Essa trilogia parece uma ampliação da fórmula clássica paulina “graça e paz”, o que se explica “pela ênfase dada a esses temas por parte do autor”.[13]

3   ¹Agaphtoi¿, pa=san spoudh\n poiou/menoj gra/fein u(miÍn periì th=j koinh=j h(mw½n swthri¿aj a)na/gkhn eÃsxon gra/yai u(miÍn parakalw½n e)pagwni¿zesqai tv= aÀpac paradoqei¿sv toiÍj a(gi¿oij pi¿stei.
Amados, com todo esforço (com ansiedade, pressa) faço escrever a vós acerca de a comum nossa (vossa?[14]) salvação necessidade tenho escrever a vós encorajando a lutar a de uma vez por todas foi dada os santos fé

“Amados”, além de ser “próprio da literatura epistolar”,[15] chama a atenção por ser a terceira vez que é mencionada, sendo uma noção importante para o autor. Em seguida o assunto da epístola, intimamente ligado à introdução, aqui é descrito: a conservação da fé – a salvação comum. “Escrever” (gra/yai) no aoristo “contrastado com o presente precedente implica que a nova epístola tinha de ser escrita imediatamente e ele não poderia estar preparado para uma coisa agradável”.[16] Com “todo o esforço” demonstra o empenho em escrever acerca da salvação comum (que todos os cristãos participam), que se manifestou na forma de apelo, de uma exortação, cujo conteúdo é a luta pela fé. A palavra “lutar” era usada para as “disputas atléticas e para o esforço dos atletas nos jogos”;[17] as palavras seguintes no genitivo e no dativo denotam a direção e a causa a favor do qual se esforça: a fé que foi dada aos santos. Ela foi dada de uma vez por todas,  aÀpac afirma a “finalidade da revelação de Deus em Cristo na história redentora. É o ponto fixo, não repetível, de nossa fé”[18]. Fé corresponde ao corpo de verdades, a tradição apostólica normativa, pois, “foi entregue” (paradoqei¿sv - particípio aoristo), é a palavra usada  para “ a entrega da tradição autoritativa em Israel”.[19]

As variações textuais com suas respectivas leituras e avaliação:
1)      hmwn (nossa)
Principais Testemunhas: Papiro p72 (III e VI – Alexandrino); Unciais ) (IV – Alexandrino), A (V – Alexandrino), B (IV – Alexandrino), Y (VIII/IX – Alexandrino); Minúsculos 81 (1044 – Alexandrino), 322 (XV - Alexandrino), 323 (XI – Alexandrino), 1067 (XIV – Alexandrino), 1243 (XI – Alexandrino), 1292 (XIII – Alexandrino), 1409 (XIV – Alexandrino), 1611 (XII – Alexandrino), 1735 (XI/XII – Alexandrino), 1739 (X – Alexandrino), 1846 (XI – Alexandrino), 2138 (1072 – Alexandrino); Lecionário 596 (1146), 422 (XIV) 884 (XIII); Versão Vulgata (IV/V – versão patrística diferindo do que está editado); Versão Siríaca Filoxeniana (507-508 – Alexandrino e Ocidental) e Harcleano (VII – Alexandrino e Ocidental); Versão Copta Saídico (III – Alexandrino); Versão Armênia (V - Oriental); Versão Etiópica (500); Versão Georgiana (V); Versão Eslava Antiga (IX); Pais da Igreja Cyril (444) Lúcifer (370/371 – Ocidental).
2)      umwn (vossa)
Principais Testemunhas: Minúsculos: 1505 (XII – Alexandrino), 1881 (XIV – Alexandrino), 2298 (XI – Alexandrino); Versão Latina Ardmachanus (IX – Ocidental); Versão Vulgata (IV/V – Ocidental); Versão Copta Boháirico (III – Alexandrino).
3)      omit (omissão da palavra)
Principais Testemunhas: Unciais K (IX – Bizantino), L (IX - Bizantino) e P (V – Bizantino); a maioria dos manuscritos bizantinos; Minúsculos: 945 (XI – Alexandrino), 1175 (XI – Alexandrino); a maioria dos lecionários no Sinaxarião e no Menologião.
Os editores da 4ª Edição de “The Greek New Testament”, classificam o texto hmwn indicando-o como certo (A). Esta opinião é procedente, pois esta escrita é atestada por um dos mais antigos manuscritos (p72), pelos Unciais (Sinaítico, Alexandrino e Vaticanus), pelos Pais da Igreja (Lúcifer e Cyril), pelos confiáveis textos Alexandrinos (em relação aos Bizantinos e Ocidentais), uma grande variedade de outras versões (Copta Saídico, Armênia, Copta Boháirico, etc.), além de sua maior abrangência geográfica.

4 pareise/dusan ga/r tinej aÃnqrwpoi, oi¸ pa/lai progegramme/noi ei¹j tou=to to\ kri¿ma, a)sebeiÍj, th\n tou= qeou= h(mw½n xa/rita metatiqe/ntej ei¹j a)se/lgeian kaiì to\n mo/non despo/thn kaiì ku/rion h(mw½n  ¹Ihsou=n  Xristo\n a)rnou/menoi.
introduziram-se maliciosamente, pois, alguns homens, os por um longo período (há muito tempo) foram proclamados (marcados) para este o juízo (sentença), ímpios, a do Deus nossa  graça estão tentando transformar em libertinagem e o único déspota (soberano) e senhor nosso Jesus Cristo negando.

O motivo “pois” (ga/r) desta correspondência continua a ser explicitada por Judas, pois “introduziram-se maliciosamente”, que também pode ser traduzido como “introduziram-se secretamente” ou “furtivamente”, não apenas doutrinas falsas, mas homens ímpios, e estes, já marcados para o julgamento final. “Marcados” no perfeito denota a autoridade contínua daquilo que foi escrito de antemão, ou seja, “escrito antes no livro divino de julgamento”.[20] Os homens são “ímpios”, cuja maldade “existe na licenciosidade e na negação do Senhor. É mais ou menos tudo que Judas diz a respeito da doutrina falsa”.[21] A graça de Deus pode ser entendida no sentido paulino de perdão dos pecados e a libertação da Lei, pois o contexto (v.8) mostra que “a libertinagem dos falsos doutores significa o abuso da liberdade própria do cristão (v.12)”,[22] e o tempo presente de metatiqe/ntej conota que “eles estão tentando transformar ou trocar de lugar” essa graça por libertinagem, ou seja, uma vida dissoluta. O maior ataque desses homens é a negação de Jesus Cristo como o “único déspota e senhor”, que Judas faz questão de explicitar, mostrando a “nova condição que o Cristo deveria ocupar na Igreja. (...) Mas não deixa de ser digno de nota que, no final dos escritos neotestamentário tal qualificação do Cristo comece a ser não mais velada, mas explícita.”[23]

5   ¸Upomnh=sai de\ u(ma=j bou/lomai, ei¹do/taj u(ma=j pa/nta oÀti [o(] ku/rioj aÀpac lao\n e)k gh=j  Ai¹gu/ptou sw¯saj to\ deu/teron tou\j mh\ pisteu/santaj a)pw¯lesen,
Lembrando, pois, vos quero, conheceis vos todos que o Senhor de uma vez por todas povo da terra Egito resgatados o e depois (em segundo) os não creram destruiu,

À luz do verso 4, que afirma a “sentença escrita de antemão” para os “homens ímpios”, Judas passa a exemplificar casos de incredulidade e castigo. Ele quer trazer à memória algo já conhecido daqueles cristãos (relembrar), a saída do Egito e o castigo dos que não creram. aÀpac colocado depois de ku/rioj acentua que a “libertação do Egito foi definitiva, mas não representava uma certeza absoluta para mais tarde”.[24] Na segunda parte do verso isso fica claro, pois os que “depois (deu/teron)” não creram foram destruídos, (uma clara referência a Nm 14). Esse acusativo adverbial marca “um forte contraste e enfatiza o ponto de admoestação”.[25]

As variações textuais com suas respectivas leituras e avaliação:
1)      panta oti o kurioj apac (todos que o Senhor de uma vez por todas)
Principais Testemunhas: Unciais C* (V – Alexandrino), ) (IV – Alexandrino), Y (VIII/IX – Alexandrino), sendo que os dois últimos omitem “o”; Minúsculos 1505 (XII – Alexandrino), 1611 (XII – Alexandrino), 2138 (1072 – Alexandrino); Versão Siríaca Harcleano (616 – Alexandrino e Ocidental).
2)      panta, oti o qeoj apac (todos que o Deus de uma vez por todas)
Principais Testemunhas: Minúsculos 1243 (XI - Alexandrino), 1846 (XI – Alexandrino), Lecionário 596 (1146); Versão Vulgata (IV/V – versão patrística diferindo do que está editado); Versão Siríaca Filoxeniana (507-508 – Alexandrino e Ocidental); Versão Armênia (V - Oriental); Versão Georgiana (V); Pais da Igreja: Clemente (antes de 215 – com provável apoio), Lúcifer (370/371 – Ocidental, omite apac)
3)      apac panta, oti Ihsouj (de uma vez por todas todos que Jesus)
Principais Testemunhas: Unciais: A (V – Alexandrino) e B (IV – Alexandrino); Minúsculas: 33 (IX - Alexandrino), 81(1044 - Alexandrino), 2344(XI - Alexandrino); Versão Vulgata (IV/V); Versão Etiópica (500); Pais da Igreja: Jerônimo (419/420).
4)      apac panta, oti o  qeoj (de uma vez por todas todos que Deus)
Principais Testemunhas: Uncial C2 (V - Alexandrino); Versão Vulgata (IV/V – versão patrística diferindo do que está editado); Versão Eslava Antiga (IX).
5)      apac panta, oti qeoj Xristoj (de uma vez por todas todos que Deus Cristo)
Principal Testemunha: Papiro p72 (III e VI – Alexandrino)
6)      apac touto, oti o kurioj  (de uma vez por todas este que o Senhor)
Principais Testemunhas: Minúsculas: 436 (XI - Alexandrino), 945 (XI - Alexandrino),  1067 (XIV - Alexandrino), 1175 (XI - Alexandrino), 1292 (XIII - Alexandrino), 1409 (XIV, omite touto), 1735 (XI/XII, com seguinte diferença: oti kurioj Ihsouj); Unciais K (IX – Bizantino, com a seguinte leitura: touto apac) e L (IX - Bizantino) com insignificantes diferenças; a maioria dos manuscritos Bizantinos; A maioria dos Lecionários; Lecionários 593 (XV - com a seguinte leitura: touto apac), 591 (XI - com a seguinte leitura: oti kurioj Ihsouj).
7)      panta oti Ihsouj apac  (todos que Jesus de uma vez por todas)
Principais Testemunhas: Minúsculas: 322 (XV - Alexandrino), 323 (XI - Alexandrino), 1241 (XII - Alexandrino), 1739 (X - Alexandrino), 1881 (XIV - Alexandrino), 2298 (XI - Alexandrino); Versão Latina Ardmachanus (IX – Ocidental, com pequenas diferenças); Pais da Igreja: Cyril (444, omite apac), Versão Copta Saídico (III – Alexandrino) e Boháirico (III – Alexandrino) com pequenas diferenças, Orígenes (253/254, citando a minúscula 1739 [X]).
Este aparato é um dos mais difíceis de analisar devido a quantidade e a semelhança entre as variantes, tanto que os editores da 4ª Edição de “The Greek New Testament”, classificaram o texto indicando-o com grandes dificuldades (D). A variante 1 é testemunhada por antigos e importantes documentos como: os Unciais (Ephraemi, Sinaítico e Laurensis), uma maioria Alexandrina e uma diversa expansão geográfica. A variante 2 não possui nenhuma testemunha entre os Papiros ou Unciais, e suas melhores e mais antigas testemunhas ainda fazem modificações no texto (Lúcifer, por exemplo). A 3 se aproxima mais da 1, visto que possui um testemunho Alexandrino considerável e Unciais, se evidenciando pela idade antiga (cerca do IV século) e uma boa expansão geográfica. A variante 4 é até bem atestada por uma Uncial, mas quantitativamente deixa a desejar. A 5 mais ainda por um Papiro (um dos documentos mais antigos preservados de Judas), só que com pouca quantidade de testemunhos. A variante 6 é bastante atestada quantitativamente, mas em sua maioria por Bizantinos (de inferior qualidade). A 7 é confirmada por manuscritos muito tardios, com os mais antigos sendo o Copta Saídico e o Boháirico e um testemunho frágil de Orígenes. Diante de tantas variantes, e a dúvida dos próprios eruditos editores do “The Greek New Testament”, poderíamos eliminar as opções 3, 5 e 7, pois fazem uso de Ihsouj ou Xristoj (sendo complicado afirmar que Jesus salvara Israel, mesmo a 5 despontando com um Papiro [o que fica evidente é a antiga questão da divindade de Cristo na tradição literária]) e arriscar pela ligeira qualidade e quantidade da variante 1.

6 a)gge/louj te tou\j mh\ thrh/santaj th\n e(autw½n a)rxh\n a)lla\ a)polipo/ntaj to\ iãdion oi¹khth/rion ei¹j kri¿sin mega/lhj h(me/raj desmoiÍj a)i+di¿oij u(po\ zo/fon teth/rhken,
anjos que os não guardaram o seu estado original mas (de fato) deixaram a própria moradia para juízo do grande dia em cadeias eternas até em trevas guardara,

O segundo exemplo diz respeito aos anjos que não protegeram (guardaram) o seu estado original (uma referência a Gn 6:1-4). a)rxh\n (domínio, ofício, autoridade)[26] pode significar várias coisas: “1) como ‘origem, descendência’; uniram-se com seres de outra espécie; 2) como ‘território de poder’; então a segunda parte determina mais o sentido: deixaram sua morada celeste; 3) em relação com ‘função’, ‘dignidade’”.[27] O exemplo de Jd seria tirado de Hen 6-10 (citação no v. 14) que acentua o fato de se misturarem com mulheres e finalmente corromperam a terra, o que, em comparação com o v. 7, faz supor ser a idéia também de Judas. Os anjos agora “são mantidos” (perfeito indicativo ativo) presos em “cadeias eternas nas trevas”, para o dia do juízo eterno.

7 w¨j  So/doma kaiì  Go/morra kaiì ai¸ periì au)ta\j po/leij to\n oÀmoion tro/pon tou/toij e)kporneu/sasai kaiì a)pelqou=sai o)pi¿sw sarko\j e(te/raj, pro/keintai deiÍgma puro\j ai¹wni¿ou di¿khn u(pe/xousai.
assim como Sodoma e Gomorra e as ao redor suas cidades o semelhante modo estes caindo na imoralidade e seguindo após carne outra, serão expostas exemplo no fogo eterno punição sofrendo.

Esse último exemplo é semelhante ao anterior (w¨j e oÀmoion). O exemplo clássico do Antigo Testamento de Sodoma e Gomorra é ampliado incluindo outras cidades semelhantes, e os próprios anjos (visto que tou/toij é masculino dativo plural, e como palavra masculina não pode se referir às cidades) que caíram praticando “imoralidade excessiva (a preposição prefixada pode ser intensiva, ou pode sugerir que essa imoralidade era contra o curso da natureza)”.[28] Judas identifica o pecado das cidades com o dos anjos, que seria “estar nas relações contra a natureza”,[29] indicando o desvio do caminho direito. O exemplo visual do castigo de Sodoma e Gomorra é uma alusão ao corpos que ficam expostos ao público (pro/keintai), servindo, portanto, de exemplo ou advertência de julgamento. O tempo presente do verbo com o adjetivo “eterno” objetivam “impressionar os leitores quanto aos efeitos desastrosos da catástrofe, que ainda eram visíveis para todos e deviam ser notados com temor”,[30] cujo mesmo fogo, destruirá os falsos doutores nos próximo éschaton (cf. v.23).

8   ¸Omoi¿wj me/ntoi kaiì ouÂtoi e)nupniazo/menoi sa/rka me\n miai¿nousin kurio/thta de\ a)qetou=sin do/caj de\ blasfhmou=sin.
Semelhantemente embora também estes sonham carne também contaminando autoridade também desprezam os gloriosos e difamam.

A comparação do v. 7 continua ( ¸Omoi¿wj), referindo-se aos intrusos do v. 4, que a despeito (me/ntoi) dos três exemplos acima citados, sonham (e)nupniazo/menoi) em suas práticas luxuriosas, indicando sua cegueira e ilusão, tomando o real pelo irreal, e dormindo para o julgamento divino, (não parece se tratar de falsas revelações) “estando distraídos pelo caráter temporário e ilusivo de seus prazeres e desejos”.[31] A cegueira e ilusão não diz respeito apenas a “conspurcação da carne, mas também ao desprezo do ‘senhorio’”,[32] “senhorio” que era a palavra usada para designar o poder majestoso que um rei usa em seu governo, podendo-se acrescentar “de Cristo” em vista do v.4. Além do desprezo (a)qetou=sin que no presente do indicativo ativo denota uma atitude arrogante, constatada também no v. 16, proveniente da ignorância, no v. 10), também a blasfêmia era dirigida a toda a esfera espiritual (do/caj referindo-se a seres angelicais).

9 o( de\  Mixah\l o( a)rxa/ggeloj, oÀte t%½ diabo/l% diakrino/menoj diele/geto periì tou=  Mwu+se/wj sw¯matoj, ou)k e)to/lmhsen kri¿sin e)penegkeiÍn blasfhmi¿aj a)lla\ eiåpen,  ¹Epitimh/sai soi ku/rioj.
mas Miguel o arcanjo, quando ao Diabo discutindo argumentando a respeito do Moisés corpo não ousar juízo pronunciar blasfêmia porém disse, repreenda-te Senhor.

Em contraste com a atitude de desprezo e as blasfêmias dos falsos mestres, o Arcanjo Miguel (considerado pelos judeus o maior dos anjos e o representante de Deus), quando “discutiu” (diele/geto com o imperfeito significando a ação contínua do passado) com o diabo, não “ousou” (teve coragem) de “pronunciar blasfêmia”, em oposição aos “falsos doutores, que não têm medo em desprezar as forças celestes, ninguém que pertence às doxai tem essa ousadia, nem em relação ao diabo.”[33] Fica evidente que Judas fez uso da tradição da época (Assunção de Moisés?), mas o que chama a atenção é o uso da palavra de ordem  ¹Epitimh/sai citando Zc 3:2 LXX, no aoristo optativo (optativo expressando desejo) ativo, usada varias vezes por Jesus para subjugar as forças hostis.

10 ouÂtoi de\ oÀsa me\n ou)k oiãdasin blasfhmou=sin, oÀsa de\ fusikw½j w¨j ta\ aÃloga z%½a e)pi¿stantai, e)n tou/toij fqei¿rontai.
Estes pelo contrário quanto a tudo certamente não compreendem difamam, quanto a tudo que por instinto como os irracionais animais entendem, em nessas coisas se destroem.

Judas retoma a idéia do v. 8 contrastando com a atitude de Miguel. Os falsos doutores “difamam” o que não “compreendem”, pois agem por instinto (fusikw½j) em comparação aos “animais irracionais”, com seu conhecimento “não ultrapassando sua paixão natural, e isso os conduz à perdição”.[34] A palavra e)pi¿stantai no presente do indicativo denota uma constatação de Judas, eles não entendem e continuam sem entender, o que os leva a fqei¿rontai , com o passivo indicando que sofrem a ação, sendo uma ironia do autor, pois a “antítese natural aqui teria sido: ‘estas coisas que eles admiram e têm prazer’”.[35]

11 ou)aiì au)toiÍj, oÀti tv= o(d%½ tou=  Ka/i+n e)poreu/qhsan kaiì tv= pla/nv tou=  Balaa\m misqou= e)cexu/qhsan kaiì tv= a)ntilogi¿# tou=  Ko/re a)pw¯lonto.
Ai deles, porque o caminho de Caim andaram e o engano de Balaão pelo pagamento se precipitaram (derramaram) e o falar contra de Coré pereceram.

O v. 11 inicia com uma “imprecação de desastre”[36] (ou)ai) e mais uma tríade de exemplos do Antigo Testamento, com o oÀti indicando a causa: eles “andaram o caminho”. Com e)poreu/qhsan denotando um modo de vida, qualificado pelo genitivo como o “caminho de Caim”, um tipo “egoísta sensual e revoltado contra Deus”.[37] Em seguida é evocado o “engano de Balaão”, o qual foi imitado (e)cexu/qhsan na voz passiva indicando “movimento de uma multidão ou a rendição superior da parte de um indivíduo”[38]), sendo caracterizado por levar Israel a ser infiel e a aceitar o culto de Baal-Peor, agindo por dinheiro (misqou com genitivo de preço). O exemplo de Coré é a rebelião (a)ntilogi¿#, falar contra), cuja amotinação contra Moisés (líder do povo) o levou a punição merecida (a)pw¯lonto com o aoristo sendo um “modo dramático de dizer que o destino deles já está selado”[39]). Os verbos estão no aoristo, sendo interpretados como: “a) uma ação do passado: os falsos doutores tiveram o mesmo comportamento; b) como um aoristo com o sentido do presente, indicando uma situação; c) como aoristo ‘profético’, do ponto de vista do juízo.”[40] Portanto, as três características dominantes dos que erravam eram: como Caim, “destituídos de amor. Como Balaão, estavam prontos, por dinheiro, a ensinar a outras pessoas que o pecado não importa. Como Coré, não se preocupavam com as ordens de Deus e eram insubmissos aos líderes da igreja.”[41]

12 ouÂtoi¿ ei¹sin oi¸ e)n taiÍj a)ga/paij u(mw½n spila/dej suneuwxou/menoi a)fo/bwj, e(autou\j poimai¿nontej, nefe/lai aÃnudroi u(po\ a)ne/mwn parafero/menai, de/ndra fqinopwrina\ aÃkarpa diìj a)poqano/nta e)krizwqe/nta,
Estes são os como as festas comunitárias vossas manchas (pedras submersas) festejando sem medo, eles mesmos pastoreando, nuvens sem águas pelo vento levados por, árvores em fim de outono (estação de frutas) sem fruto duas vezes mortas desarraigadas,

Essa é uma descrição (ouÂtoi¿ ei¹sin) do falso grupo, numa série de comparações tiradas da natureza com um tom ainda mais severo, uma “torrente de xingações”.[42] A primeira delas é spila/dej (manchas ou pedras ocultas), palavra usada para denotar “pedras no mar, perto da praia, e cobertas com água, de modo que eram muito perigosas para os navios”.[43] Estas “manchas” nas festas comunitárias (a)ga/paij usada pela primeira vez aqui com esse sentido) significam que nessas refeições “os falsos mestres eram responsáveis pela destruição da fé e do comportamento decente de seus companheiros cristãos, assim como recifes submersos podem afundar navios.”[44] suneuwxou/menoi no particípio presente médio implica que os falsos mestres pertencem, participam à comunidade, mas sem temor (a)fo/bwj), “pastoreando a si mesmos”, o que não implica necessariamente que faziam parte da liderança mas, mais no sentido de “engordar-se a si mesmo” e seu erro era não respeitar o caráter religioso das reuniões. A comparação continua com “nuvens sem água”, que parecem ser alguma coisa, mas na verdade nada significam (eles não têm nada a oferecer)! Árvores em fqinopwrina (final de outono, época em que elas ficam “secas, sem folhas, com poucos galhos, com todo crescimento minado pela aproximação do inverno e sem frutos”[45]) e, como se não bastasse, “o quadro aqui, é que a colheita havia chegado e terminado sem que essas árvores tivessem dado fruto. Eram indignas e desapontadoras”[46] (aÃkarpa). Agora Judas caminha para um clímax: “duas vezes mortas, desarraigadas”. “Duas vezes mortas” no sentido de serem estéreis e de estarem sem vida; desarraigadas, como metáfora (muito utilizada no Antigo Testamento) para o julgamento, significa que não pertencem mais à comunidade (arrancadas pela raiz) e que estão destinadas para o fogo (v. 23), o destino dos falsos doutores.

As variações textuais com suas respectivas leituras e avaliação:
1)      a)ga/paij u(mw½n (festas comunitárias vossas)
Principais Testemunhas: Papiro p72 (III e VI – Alexandrino); Unciais ) (IV – Alexandrino), B (IV – Alexandrino), Y (VIII/IX – Alexandrino); Minúsculos 33 (IX – Alexandrino), 81 (1044 – Alexandrino), 322 (XV - Alexandrino), 323 (XI – Alexandrino), 436 (XI – Alexandrino), 945 (XI – Alexandrino), 1067 (XIV – Alexandrino), 1175 (XI – Alexandrino), 1241 (XII – Alexandrino), 1292 (XIII – Alexandrino), 1409 (XIV – Alexandrino), 1505 (XII – Alexandrino), 1611 (XII – Alexandrino), 1735 (XI/XII – Alexandrino), 1739 (X – Alexandrino), 1881 (XIV – Alexandrino), 2138 (1072 – Alexandrino), 2298 (XI – Alexandrino), 2344 (XI – Alexandrino); Unciais K (IX – Bizantino), L (IX - Bizantino); a maioria dos lecionários no Sinaxarião e no Menologião; Versão Latina Ardmachanus (IX – Ocidental); Versão Vulgata (IV/V); Versão Siríaca Filoxeniana (507-508 – Alexandrino e Ocidental) e Harcleano (VII – Alexandrino e Ocidental); Versão Copta Saídico (III – Alexandrino) e Boháirico (III – Alexandrino); Versão Etiópica (500); Versão Georgiana (V); Versão Eslava Antiga (IX); Pais da Igreja Agostinho (430), Lúcifer (370/371 – Ocidental).
2)      a)pa/taij u(mw½n (desejos enganosos vossos)
Principais Testemunhas: Unciais: A* (V - Alexandrino), C (V - Alexandrino); Minúsculas: 1243 (XI, com variação em h(mw½n),1846 (XI - Alexandrino).
3)      a)pa/taij au(tw½n (desejos enganosos deles)
Principais Testemunhas: Uncial A (V - Alexandrino).
4)      euwxi)aij u(mw½n (banquetes vossas)
Principais Testemunhas: Minúscula 6 (XIII - Alexandrino).
Diante da superioridade evidente da primeira variante, com seus manuscritos em maior quantidade e qualidade, expansão geográfica abrangente e testemunho exuberante de várias versões, a opinião do editores do “The Greek New Testament” é acertada ao classificar o texto indicando-o como certo (A).

13 ku/mata aÃgria qala/sshj e)pafri¿zonta ta\j e(autw½n ai¹sxu/naj, a)ste/rej planh=tai oiâj o( zo/foj tou= sko/touj ei¹j ai¹w½na teth/rhtai.
ondas furiosas do mar espumando as suas vergonhas, estrelas errantes dos quais o escuridão (inferno) da treva para sempre (eternamente) tem sido guardada (são guardada).

Assim como as “ondas furiosas” espumam sujeira, “aparecem as próprias impudicícias dos intrusos”[47], como os refugos trazidos pelas ondas e lançados à praia, “às quais são comparados os resultados da impiedade”.[48] A figura da “estrela errante” é “usada no livro de Enoque (v. Enoque 43, 44, 18, etc.), e descreve estrelas cadentes que são engolidas pelas trevas”[49], aqui elas são guardadas eternamente para a escuridão das trevas (juízo), o que fica evidente pelo verbo teth/rhtai no perfeito do indicativo ativo, significando uma idéia permafeita (está e continua guardada).

14   Proefh/teusen de\ kaiì tou/toij eÀbdomoj a)po\  ¹Ada\m  ¸EnwÜx le/gwn,  ¹Idou\ hÅlqen ku/rioj e)n a(gi¿aij muria/sin au)tou=
Profetizou e também estes sétimo depois de Adão Enoque dizendo: Eis que veio o Senhor entre santas dez mil suas

Enoque profetizou (pregou a palavra de Deus), e tudo indica ser uma palavra de julgamento, pois, as miríades referem-se “aos anjos que acompanham a Deus, especialmente no julgamento”,[50] o que fica claro no próximo verso. O fato de ele ser o sétimo (Gn 5:21) reforça a confiabilidade de sua profecia, que parece incluir os atuais falsos doutores, porque  kai (ì tou/toij) pode “reforçar o verbo ou o sujeito”[51].

15 poih=sai kri¿sin kata\ pa/ntwn kaiì e)le/gcai pa=san yuxh\n periì pa/ntwn tw½n eÃrgwn a)sebei¿aj au)tw½n wÒn h)se/bhsan kaiì periì pa/ntwn tw½n sklhrw½n wÒn e)la/lhsan kat' au)tou= a(martwloiì a)sebeiÍj.
fazendo julgamento contra todos e convencendo (fazer convicto, reprovar) todos (qualquer um) vida acerca de todas as obras de impiedade deles que impiamente praticaram e acerca de todos aos duras palavras contra dele pecadores ímpios

O infinitivo aqui usado para expressar propósito (poih=sai kri¿sin) deixa claro o teor da profecia de Enoque: Deus virá (verso anterior) para exercer juízo contra os ímpios. Dentre as características ímpias está o caráter duro, desumano e incivilizado (sklhrw½n). Chama a atenção o uso das palavras a)sebei¿aj, h)se/bhsan e a)sebeiÍj, pois ele certamente quer chamar a atenção de seus leitores para a “sorte dos falsos doutores (que já no v. 4 são caracterizados como ímpios em palavras e ação)”.[52]

16   OuÂtoi¿ ei¹sin goggustai¿ memyi¿moiroi kata\ ta\j e)piqumi¿aj e(autw½n poreuo/menoi, kaiì to\ sto/ma au)tw½n laleiÍ u(pe/rogka, qauma/zontej pro/swpa w©felei¿aj xa/rin.
Estes são murmuradores queixosos as quais forte desejo deles andando, e a boca deles fala arrogantes, adulando com fingimento do lucro por causa.

A caracterização dos falsos doutores continua. goggustai¿ se refere a característica dos israelitas no deserto, descrevendo sua incredulidade e revolta contra Deus (Ex 15:17; Nm 14:17; I Co 10:10), o que já foi mencionada no v. 5 e 11, com a garantia de destruição. “Queixosos” (memyi¿moiroi) era uma palavra para expressar um comportamento grego padrão: “você nunca está satisfeito com nada que lhe acontece; vive se queixando. Você não quer o que consegue, anseia pelo que não consegue. No inverno gostaria que fosse verão, e no verão que fosse inverno. Você é como a pessoa doente, difícil de agradar, uma pessoa que se queixa sempre de sua sorte na vida”,[53] expressando a queixa da pessoa contra Deus que designou o destino de cada homem. A (des)qualificação moral é retomada com no “forte desejo deles andando”, implicando que “erro e imoralidade tradicionalmente caminham juntos (cf. II Tm 4:3)”.[54] Palavras arrogantes (de tamanho excessivo, cheio, inchado) também expressa uma forma de revolta contra Deus. No verso 8 Judas já tratou disso, mas aqui ele acrescenta um ponto importante: “adulando com fingimento por causa do lucro”. O tempo presente do particípio indica uma atitude linear dos falsos mestres: estão prontos a bajular quando seus interesses estão em jogo. O genitivo de xa/rin não deixa dúvida: “por causa de” w©felei¿aj (lucro, ganho, vantagem). Parece que Judas quer repetir, de modo mais direto, as “críticas baseadas nos exemplos do AT, dirigidas aos intrusos no v. 11; e isso, inclusive, como preparação à exortação dirigida aos leitores, que vai seguir logo mais”.[55]

17   ¸UmeiÍj de/, a)gaphtoi¿, mnh/sqhte tw½n r(hma/twn tw½n proeirhme/nwn u(po\ tw½n a)posto/lwn tou= kuri¿ou h(mw½n  ¹Ihsou=  Xristou=
Vós porém, amados relembrai-vos palavras das foi predito pelo dos apóstolos do Senhor nosso de Jesus de Cristo

Judas volta a se referir aos leitores com a exortação “relembrai-vos” (o que ele fará em tom exortativo com vários imperativos, v. 17, 21, 22 e 23), uma retomada do início de sua carta (v.5). Depois de descrever os falsos mestres e seus adeptos, ele menciona as profecias (proeirhme/nwn, falar de antemão, prever, no perfeito indicando resultados duradouros, permanentes) feitas pelos “apóstolos do nosso Senhor Jesus Cristo”. Essa referência é restrita aos doze, visto que já é considerada como autoridade doutrinária (compare com v. 14), o que fica claro pelo resumo da mensagem apostólica no próximo verso. Os leitores evitarão o erro lembrando-se das “palavras proferidas pelos apóstolos de que os falsos mestres apareceriam logo dentro da própria igreja. Com isso poderão devidamente ‘batalhar pela fé’ (v. 3)”.[56]

18 oÀti eÃlegon u(miÍn: [oÀti]  ¹Ep' e)sxa/tou [tou=] xro/nou eÃsontai e)mpaiÍktai kata\ ta\j e(autw½n e)piqumi¿aj poreuo/menoi tw½n a)sebeiw½n.
quais diziam vos que em último [do] tempo haverá escarnecedores por si mesmos as suas paixões impuras andando sua impiedade.

O teor da profecia apostólica (cf. II Pe 3:3, cuja linguagem é idêntica) é um alerta contra os falsos doutores. O imperfeito indicativo ativo de eÃlegon é “costumeiro ‘eles costumavam dizer’, ou retrata a ação iterativa ‘eles diziam, de tempos em tempos’”.[57] A presença dos falsos doutores se torna um sinal do “fim dos tempos”, com a premente característica de “zombadores”, ou seja, são ímpios soberbos que menosprezam os piedosos. A figura de Jd 8 e 16 (levarão uma vida de acordo com suas próprias concupiscências) é retomada com o acréscimo, sobre o v. 16, de tw½n a)sebeiw½n (dos ímpios), o que é “duro depois de um genitivo anterior (heautõn) acompanhando epithymías”[58]. Pode-se pensar em: “(1) num genitivo objetivo (concupiscências que levam a ações ímpias); (2) num genitivo subjetivo (ações ímpias que pertencem às concupiscências) ou (3) num qualificativo (concupiscências ímpias)”[59], este último parece ser melhor, pois denota a qualidade. Sobre a)sebeiw½n veja o v. 15.

19   OuÂtoi¿ ei¹sin oi¸ a)podiori¿zontej, yuxikoi¿, pneu=ma mh\ eÃxontej.
Estes são os dividem, sensuais, espírito não possuem.

A ação de dividir (a)podiori¿zontej) pela sua vida ímpia e que alguns estavam prestes a seguir, está no particípio presente ativo, significando a atividade em curso. De acordo com os versos 4 e 12, a interpretação mais correta é que causavam discórdias na comunidade, talvez por se acharem superiores. Na seqüência está o contraste entre yuxikoi e pneu=ma mh\ eÃxontej, se referindo a “psíquicos, de mente mundana” que “seguiam seus desejos e apetites naturais sem qualquer freio ou controle”,[60] pois não tem o espírito (de Deus) e por essa razão vivem vidas desregradas (essa mesma contraposição foi feita por Paulo em I Co 2:14, e por Tiago em Tg 3:15). Os falsos doutores que se achavam superiores e, por esta razão, causavam divisões, são considerados sem o Espírito.

20 u(meiÍj de/, a)gaphtoi¿, e)poikodomou=ntej e(autou\j tv= a(giwta/tv u(mw½n pi¿stei, e)n pneu/mati a(gi¿% proseuxo/menoi,
Vós porém, amados, edificando a vós a santíssima vossa fé, em Espírito Santo orando,

O u(meiÍj enfático (também no verso 17), denota a diferença entre os amados (endereçados) e os outros. A exortação para que continuamente (e)poikodomou=ntej no particípio presente ativo) se edifiquem (como comunidade), também indica os meios (particípio): a “santíssima vossa fé” (compreendida como “o corpo de verdades, ou a fé que foi entregue aos santos, veja v. 3”[61]), sobre o qual a pessoa tem de construir sua vida, e “orando no Espírito Santo”, (contrapondo-se novamente aos que não tem o Espírito) que pode ser compreendida como “em comunhão com o Espírito Santo” ou “pela força do Espírito Santo”. Como a idéia principal (dos v. 20-21) é expressa pelo verbo thrh/sate , deve-se “evitar a tradução dos particípios do v.20 como sendo imperativos. ‘Edificar’ e ‘orar’ são as condições para ‘guardar-se’”.[62]

21 e(autou\j e)n a)ga/pv qeou= thrh/sate prosdexo/menoi to\ eÃleoj tou= kuri¿ou h(mw½n  ¹Ihsou=  Xristou= ei¹j zwh\n ai¹w¯nion.
vós em amor de Deus guardai-vos esperando ansiosamente a misericórdia do senhor nosso de Jesus de Cristo em vida eterna.

thrh/sate (guardar) no aoristo imperfeito ativo (à semelhança do v. 1 trazendo a idéia permafeita, sugerindo o cuidado contínuo) deve ser feito no “amor de Deus” (e)n a)ga/pv qeou=), e seu nexo no v.1 deve ser visto “como sendo um genitivo subjetivo”[63], sendo confirmado pelo paralelo “a misericórdia de nosso Senhor” na frase seguinte. A misericórdia deve ser “esperada ansiosamente” (prosdexo/menoi), com o particípio expressando a ação contemporânea que pode ser temporal: “enquanto estão esperando”. Num tom escatológico, os leitores devem esperar na “misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo”, que leva à vida eterna, indicando seu papel como juiz no juízo final, e com esta perspectiva, eles devem praticar entre si a misericórdia, no verso seguinte.

22 kaiì ouÁj me\n e)lea=te diakrinome/nouj,
Também que alguns compadecei-vos (dos que estão) vacilando,

e)lea=te no presente imperativo ativo, significa mostrar piedade. Judas não quer que seus leitores se preocupem apenas consigo mesmos no perigo do erro (v. 21), mas também com aqueles que estão “vacilando” (diakrinome/nouj pode ser traduzido como disputar, mas o sentido “ter piedade dos que vacilam” se encaixa melhor).

23 ouÁj de\ s%¯zete e)k puro\j a(rpa/zontej, ouÁj de\ e)lea=te e)n fo/b% misou=ntej kaiì to\n a)po\ th=j sarko\j e)spilwme/non xitw½na.
outros e salvai vós do fogo arrebatando-os, alguém e compadecei-vos em temor odiando até o proveniente de carne contaminada a roupa.

A salvação (resgate) deve ser feita do fogo, uma alusão ao castigo de Sodoma e Gomorra (v. 7). A atitude do cristão “deve ser a misericórdia para com o pecador, acoplada com o ódio pelo pecado deles”.[64] O perfeito de misou=ntej (manchar) enfatiza o estado ou resultado. “Carne” tem um sentido negativo (v. 7-8), se referindo aos abusos libertinos que são criticados, e assim, a roupa manchada pela carne significa que “eles eram tão corruptos que suas próprias roupas estavam manchadas”.[65]

As variações textuais com suas respectivas leituras e avaliação:
1)      ouÁj de\ s%¯zete e)k puro\j a(rpa/zontej (outros e salvai vós do fogo arrebatando-os)
Principais Testemunhas: Unciais ) (IV – Alexandrino), A (V – Alexandrino), Y (VIII – Alexandrino); Minúsculos 33 (IX – Alexandrino), 81 (1044 – Alexandrino), 322 (XV - Alexandrino), 323 (XI – Alexandrino), 436 (XI – Alexandrino), 1067 (XIV – Alexandrino), 1241 (XII – Alexandrino), 1409 (XIV – Alexandrino), 1735 (XI/XII – Alexandrino), 1739 (X – Alexandrino), 1846 (XI – Alexandrino), 1881 (XIV – Alexandrino), 2298 (XI – Alexandrino), 2344 (XI – Alexandrino); Lecionários: 156 (X), 422 (XIV), 596 (1146); Versão Latina Ardmachanus (IX – Ocidental); Versão Vulgata (IV e V – Ocidental); Versão Copta Boháirico (III – Alexandrino); Versão Armênia (V - Oriental);Versão Georgiana (V); Pais da Igreja Clemente (antes de 215).
2)      ouÁj de\ s%¯zete e)k puro\j a(rpa/zontej e)n fo/b% (outros e salvai vós do fogo arrebatando-os em temor)
Principais Testemunhas: Uncial C (V - Alexandrino); Minúsculas: 1243 (XI - Alexandrino), 1292 (XIII, com pequena variação), 1505 (XII - Alexandrino), 1852 (XIII - Alexandrino); Versão Siríaca Harclense (616).
3)      ouÁj de\ e)n fo/b% s%¯zete e)k puro\j a(rpa/zontej (outros e em temor salvai vós do fogo arrebatando-os)
Principais Testemunhas: 945 (XI - Alexandrino), 1175 (XI - Alexandrino), 1611 (XII - Alexandrino), a maioria dos Bizantinos; Unciais: K (IX – Bizantino), L (IX - Bizantino) e P (V – Bizantino); a maioria dos Lecionários; Versão Eslava Antiga (IX).
4)      s%¯zete e)k puro\j a(rpa/zontej (salvai vós do fogo arrebatando-os)
Principais Testemunhas: Uncial B (IV – Alexandrino).
5)      e)k puro\j a(rpa/zate (do fogo arrebatai-os)
Principais Testemunhas: Papiro p72 (III e IV – Alexandrino); Versão Latina (IX – Ocidental); Versão Siríaca Filoxeniana (507-508 – Alexandrino e Ocidental); Versão Copta Saídico (III – Alexandrino); Pais da Igreja: Clemente (até 215); Jerônimo (419/420, com variações).
O “The Greek New Testament” teve alguma dificuldade para escolher o texto a ser usado (C). A primeira variante conta com o apoio de algumas Unciais e um vasto material alexandrino das Minúsculas. Sua variedade e antiguidade são relevantes, bem como a expansão geográfica, o que deve ter pesado na escolha dos editores do “The Greek New Testament”. A 2 remete ao século VI, com poucas testemunhas. Já a 3 ganha em quantidade, por contar com a maioria Bizantina e Lecionaria, mas com testemunhas sem muito peso. A variante 4 conta apenas com a Uncial B do IV século, o que já é um pouco melhor (em relação a data) que a anterior. Por fim, a 5 traz a grande credibilidade do p72, apoiada por outras versões e alguns pais da igreja (com as devidas variações), bem como por sua expansão geográfica notável. A opção 1 e a 5 são as mais interessantes até aqui. O que pode ajudar na definição é o contexto: mesmo a 5 tendo a brevidade ao seu lado, a variante 1 se harmoniza melhor com o contexto, pois “eles devem procurar salvar a outros” (depois de procurar convencer os hesitantes no verso 22) e também ter “misericórdia em temor”, evidenciando uma espécie de graduação no pensamento do autor. Mesmo Judas proclamando o firme juízo que virá, ele não abre mão da misericórdia de Deus, e sugere que seus leitores também não o façam, mas sem contaminar-se com o pecado.

24   T%½ de\ duname/n% fula/cai u(ma=j a)ptai¿stouj kaiì sth=sai katenw¯pion th=j do/chj au)tou= a)mw¯mouj e)n a)gallia/sei,
O que tem poder proteger vós sem tropeço e apresentar perante a face a de glória dele limpo em júbilo,

Em sua doxologia final Judas não cita por acaso o poder divino (duname/n% particípio presente médio, ao que é capaz, poderoso), mesmo com toda exortação anterior (v. 20-21) os leitores devem contar com a ajuda divina, pois, Deus pode “guardá-los da queda (‘sem queda’: a palavra grega não é usual ...)”[66], a palavra a)ptai¿stouj era usada para cavalos que não tropeçam, ou “acerca de bons homens que não cometem lapsos morais. Pode estar indicando o tropeço dos pecados dos espiões espirituais.”[67] E “apresentar-vos perante a sua face de glória limpo em júbilo” tem evidentemente um tom escatológico (confira com outras expressões tradicionais como: Ef 1:4; Cl 1:22; I Ts 3:13; Ap 14:5), com sth=sai no infinitivo aoristo denotando o propósito de Deus, que perante a sua presença irá apresentá-los “sem mácula” (a)mw¯mouj) e em exultação, exultação esta do “povo eleito de Deus diante de Sua manifestação no Fim”.[68]

25 mo/n% qe%½ swth=ri h(mw½n dia\  ¹Ihsou=  Xristou= tou= kuri¿ou h(mw½n do/ca megalwsu/nh kra/toj kaiì e)cousi¿a pro\ panto\j tou= ai¹w½noj kaiì nu=n kaiì ei¹j pa/ntaj tou\j ai¹w½naj, a)mh/n.
único Deus Salvador nosso por meio de Jesus de Cristo o Senhor nosso glória majestade poder e domínio antes de toda a eternidade (era) e agora e em todo as eternidades (tempos), amém.

Ao “único Deus, nosso Salvador” é explicado “muitas vezes pela polêmica antignóstica de Judas”,[69] mas pode também caracterizar a superioridade de Deus como “único” em contraste a outros deuses. A expressão “por meio de Jesus Cristo” é difícil de relacionar, se se refere ao que antecede, ou ao que sucede. O que segue parece encaixar melhor com a doxologia comum: “glória, majestade, etc. pertencem a Deus por Jesus Cristo” (veja I Pe 4:11, “glória, majestade e poder” são “elementos tradicionais da doxologia, tanto na literatura judaica posterior como na paleocristã”[70]). “Domínio” após “poder” é um tanto inusitado, mas, com o sentido de “possuir autoridade sobre”, reforça as palavras do verso anterior. A “fórmula da eternidade”, tão usual nas doxologias, aqui é ampliada para o passado, presente e o futuro. Judas conclui com o “amém” responsorial (a)mh/n), que é a palavra “normal para o término de doxologias e sela esta confiante atribuição de glória Àquele a quem ela pertence – o Deus que é capaz!”.[71] Devido à afirmação solene, o “todo da doxologia deve ser entendido como confirmação e não como voto ou desejo”.[72]


Comentário Final

A epístola de Judas pode ser dividida em cinco partes:
I. Saudação Introdutória 1-2
II. Explicação Do Propósito Pelo Qual Escreveu 3-4
III. Denúncia Dos Falsos Mestres 5-16
IV. Exortação À Fidelidade E Vigilância Cristã 17-23
V. Doxologia Final 24-25

A saudação introdutória tem muito em comum com as demais saudações do Novo Testamento. Judas se identifica como autor e os seus leitores como aqueles que desfrutam da salvação comum de todos os crentes, sobre a qual pretendia escrever. Mas, um alarmante movimento chamou sua atenção “exigindo que ele mudasse o tema para advertência, exortação e vigilância”,[73] passando a escrever para “encorajar seus leitores a lutarem por uma fé ortodoxa (v. 3)”.[74] Judas exorta seus leitores a “batalhardes pela fé”, e uma das razões para fazê-lo é que falsos mestres se infiltraram na igreja, que “negam o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo” (v.4). Tudo indica que eram pessoas proeminentes que estavam abusando da liberdade cristã para satisfação de seus desejos ímpios, cujo juízo já está decretado.
Em seguida Judas passa a denunciar os falsos mestres, trazendo à memória de seus leitores exemplos da ação divina: de salvação e juízo. Menciona a incredulidade dos que pereceram após a saída do Egito (v.5), o estado decaído dos anjos que foram reservados, em “cadeias eternas” para o juízo, pois abandonaram sua natureza e se corromperam (v.6), e, como não poderia deixar de ser, faz menção do clássico exemplo de Sodoma e Gomorra (v.7). Os falsos doutores são caracterizados, em comparação com os exemplos anteriores e em forte contraste com a atitude de Miguel, como “alucinados” e “difamadores” (v.8), agindo como irracionais (v.10). Ele continua declarando sentenças de juízo e lamentação sobre os falsos mestres e seus adeptos, comparando-os ainda às atitudes de Caim, Corá e Balaão (v.11), que pereceram. Fala também de seus efeitos na comunidade e o propósito (deles) de satisfazerem a si mesmos, destacando sua insignificância espiritual (nuvens sem água), sua imundícia e improdutividade (v.12-13), e, apesar da arrogância desses mestres, o fim deles como trágico e certo (v.13-16).
Agora o enfático “vós” do verso 17 chama a atenção para o comportamento dos leitores. Palavras de encorajamento (lembrando as palavras dos apóstolos sobre os falsos profetas que apareceriam) para que eles “edifiquem a santíssima fé” e continuem “orando no Espírito Santo” (v.18-20), confiando no fato que Deus continuará guardando-os (à semelhança do verso 1, cujo termo é retomado) no Seu amor e na misericórdia do “Senhor Jesus” para o fim (vida eterna) (v.21). No entanto, deveriam exercer misericórdia procurando a salvação (do erro) daqueles que estão na dúvida, sem, todavia, se misturar aos seus pecados (v.22-23).
Judas termina apontando para o fim: a salvação dos leitores e a condenação do outro grupo. Finaliza sua epístola com a doxologia que reafirma o poder (que os falsos mestres negaram e rejeitaram no verso 4) de Deus em Jesus Cristo para guardar os leitores de tropeços e apresentá-los perante a Sua glória (v.24). Sua exclusividade (único Deus) por todo o tempo (passado, presente e futuro) é destacada na ação salvadora de Deus através de Jesus Cristo, que é o “Senhor nosso” e possui a “glória majestade, império e soberania, antes de todas as eras, e agora, e por todos os séculos. Amém!” (v.25).


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[1] Carson, D. A; Moo, Douglas J. e Morris, Leon. Introdução ao Novo Testamento. Traduzido por Maurício Loureiro Redondo. São Paulo: Edições Vida Nova, 1997. p. 509
[2] Ibid. p. 509
[3] hale, Broadus David. Introdução ao estudo do Novo Testamento. Edição revisada e ampliada. Traduzido por Cláudio Vital de Souza. São Paulo: Editora Hagnos, 2001. p. 399
[4] Ibid. p. 399
[5] hale, 2001. p. 400
[6] HALLEY, H. Henry. Manual Bíblico. 4ª Edição. Traduzido por David A. Mendonça. São Paulo: Edições Vida Nova, 1994. p. 597
[7] Ibid. p. 597
[8] Pfeiffer, Charles F. (Editor). Comentário Bíblico Moody. Vol. 5. Traduzido por Yolanda M. Krievin. São Paulo: Imprensa Batista Regular, 1983. p. 399
[9] Veja a discussão sobre variações textuais em seguida.
[10] Rienecker, Fritz; Rogers, Cleon. Chave lingüística do Novo Testamento Grego. Traduzido por Gordon Chown e Júlio Paulo T. Zabatiero. São Paulo: Edições Vida Nova, 1985. p. 598
[11] Pfeiffer, 1983. p. 399
[12] Será baseado em: Aland, Kurt; Black, Matthew; Martini, Carlo M.; Metzger, Bruce M.; Wikgren, Allen.(Editores). The Greek New Testament, Fourth revised edition. Stuttgart: United Bible Societies, 1994.
[13] Thevissen, G.; Kahmann, J. J.; Dehandschutter, B. As Cartas de Pedro, João e Judas. Traduzido por Fredericus Antonius Stein (I Pe), Valério Heissen (II Pe, Jd), Johan Konings (I-III Jo). São Paulo: Edições Loyola, 1999. p. 301
[14] Veja a discussão sobre variações textuais em seguida.
[15] Thevissen, 1999. p. 302
[16] Rienecker, 1985. p. 598
[17] Ibid. p. 598
[18] Pfeiffer, 1983. p. 399
[19] Rienecker, 1985. p. 598
[20] Rienecker, 1985. p. 598
[21] Thevissen, 1999. p. 303
[22] Ibid. p. 303
[23] Feitosa, Darlyson. Jesus, o Déspota. Disponível em: www.jesusdespota.pro.br. Acesso em: 30 de janeiro de 2004.
[24] Thevissen, 1999. p. 305
[25] Rienecker, 1985. p. 599
[26] Rienecker, 1985. p. 599
[27] Thevissen, 1999. p. 306-307
[28] Rienecker, 1985. p. 599
[29] Thevissen, 1999. p. 308
[30] Rienecker, 1985. p. 599
[31] Ibid. p. 600
[32] Thevissen, 1999. p. 308
[33] Thevissen, 1999. p. 309
[34] Ibid. p. 309
[35] Rienecker, 1985. p. 600
[36] Rienecker, 1985. p. 600
[37] Fílon citado por Thevissen, 1999. p. 310
[38] Rienecker, 1985. p. 600
[39] Ibid. p. 600
[40] Thevissen, 1999. p. 310
[41] Ibid. p. 310-311
[42] Thevissen, 1999. p. 311
[43] Rienecker, 1985. p. 601
[44] Ibid. p. 601
[45] Ibid. p. 601
[46] Ibid. p. 601
[47] Thevissen, 1999. p. 312
[48] Rienecker, 1985. p. 601
[49] Ibid. p. 601
[50] Rienecker, 1985. p. 601
[51] Thevissen, 1999. p. 312
[52] Thevissen, 1999 p. 313
[53] Rienecker, 1985. p. 602
[54] Thevissen, 1999. p. 314
[55] Thevissen, 1999 p. 314
[56] Pfeiffer, 1983. p. 401
[57] Rienecker, 1985. p. 602
[58] Thevissen, 1999. p. 315
[59] Ibid. p. 315-316
[60] Rienecker, 1985. p. 602
[61] Rienecker, 1985. p. 603
[62] Thevissen, 1999. p. 317
[63] Ibid. p. 317
[64] Pfeiffer, 1983. p. 401
[65] Rienecker, 1985. p. 603
[66] Thevissen, 1999. p. 319
[67] Rienecker, 1985. p. 603
[68] Ibid. p. 603
[69] Thevissen, 1999. p. 320
[70] Ibid. p. 320
[71] Rienecker, 1985. p. 603
[72] Thevissen, 1999. p. 320
[73] hale, Broadus David. Introdução ao estudo do Novo Testamento. Edição revisada e ampliada. Traduzido por Cláudio Vital de Souza. São Paulo: Editora Hagnos, 2001. p. 402
[74] ladd, George Eldon. Teologia do Novo Testamento. Traduzido por Darci Duzilek e Jussara Marindir Pinto Simões Árias. São Paulo: Exodus, 1997.p. 562

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