A questão principal a ser abordada é a possibilidade e o significado de um exercício de produção de conhecimento histórico. Essas terminologias do "novo” e do “velho” são perigosas, pois insinuam uma ruptura súbita que não se dá assim tão excludentemente: o novo professor (que certamente, ainda contém muito do tradicional) têm de construir juntos sua proposta de ensino.
FUNDAMENTOS TEÓRICOS E
METODOLÓGICOS
DO
ENSINO DA HISTÓRIA
O DESAFIO DA INICIAÇÃO
HISTÓRICA DO ALUNO
OU O QUE LHE PODEMOS SUGERIR
PROFESSOR
JÚLIO NASCIMENTO
CLAUDIA
APARECIDA DAMKE CYPRIANI
ELDERSON
LUCIANO MEZZOMO
EVA
ROMANA DA CUNHA
IVONETE RIBAS
JANE ELLEN FERREIRA MOREIRA
MARIA DE FATIMA DA SILVA
Novo Progresso - PA
Janeiro de 2011
O DESAFIO DA INICIAÇÃO HISTÓRICA DO ALUNO
OU O QUE LHE PODEMOS SUGERIR
A questão principal a ser abordada é a
possibilidade e o significado de um exercício de produção de conhecimento
histórico.
Essas
terminologias do "novo” e do “velho” são perigosas, pois insinuam uma
ruptura súbita que não se dá assim tão excludentemente: o novo professor (que
certamente, ainda contém muito do tradicional) têm de construir juntos sua
proposta de ensino.
O conteúdo
que você vai desenvolver, com sua classe, ou seja, o seu objeto de estudo, só
pode ser determinado por você, em sua atividade profissional concreta, a partir
dos dados da realidade da sua escola, seu período letivo, seus alunos... O seu
conteúdo vai depender de sua classe, levando em conta, como ponto de partida, o
que eles já sabem e aquilo que lhes interessa.
O
estudo e a reflexão são necessários para a escolha e a análise do objeto de
estudo, são eles que constituem a sua atividade profissional, que ninguém pode
resolver por você. É lógico que não estamos dizendo que você é responsável pelo
atual caos de nossa situação do ensino e pelas enormes dificuldades estruturais
que, na verdade, muitas das vezes chegam até a entravar qualquer possibilidade
de ensino/aprendizagem, mas também não estamos querendo insentá-lo de suas
responsabilidades.
A
história estuda as ações dos homens, procurando explicar as relações entre seus
diferentes grupos. Produzir história, para nós é captar, recuperar essas relações
que se estabelecem entre os grupos
humanos no desenvolvimento de suas atividades, nos mais diferentes tempos e
espaços.
Uma
vez que a história estuda as transformações sociais e as permanências, seu
objeto de estudo é sempre uma determinada sociedade, em determinado momento,
sempre pensada como um todo, sem sempre analisada in totum.
É na
5ª série que o aluno começa a iniciar o estudo da história. Uma vez abandonado
o dilema de se começar por Antiga ou por Brasil, é fundamental fornecerem-se as
bases do raciocínio que nos pareçam significativas, para se poder transformar
radicalmente a visão do aluno em relação a história. As noções de tempo e
espaço a serem trabalhadas com eles deverão ser, pois, aquelas que lhes são
mais próximas, o que lhe permitirá lidar com essas questões mais facilmente. O
que interessa a história é refletir sobre o meio histórico: o meio geográfico
transformado pela ação dos diferentes grupos sociais nele presentes.
É
preciso que fique bem claro que o importante, ao se tratar desses aspectos, é
ir além da simples medida de tempo e espaço, chegando-se ao conhecimento e à
explicação do objeto em estudo.
O
conhecimento histórico procura ver as mudanças e também as permanências pelas
quais passam ou passaram as diferentes sociedades humanas; nada permanece
totalmente igual e é através do tempo que se percebem essas mudanças.
Propomos,
portanto, que os objetos de estudo partam da realidade mais próxima do aluno,
não somente porque ele tem dificuldade em lidar com o tempo, mas, sobretudo
porque queremos aproveitar o seu conhecimento, sua experiência de vida. A
questão sobre o objeto de estudo a ser tratado deve ser suscitada pelo presente
que o aluno vive.
Seu
objeto de estudo com seus alunos tratará sobre o que fazem os homens, como
vivem, ou seja, como trabalham, como se alimentam, como pensam, como se
organizam politicamente, como se divertem, como se deslocam em uma determinada
época (agora ou antigamente), em um determinado lugar.
Ao
selecionar o seu objeto de estudo juntamente com seus alunos, você deve
construí-lo sob a forma de uma problemática de investigação do objeto que
permita levantar os “comos” e os “porquês”, que vão além dos “quandos” e
“ondes”, embora estes dois últimos sejam dados iniciais.
Quanto
mais rica e densa for a problematização do objeto de estudo a ser examinado,
melhor será o resultado da análise,
porque o exame da problemática inicial levará, necessariamente, a outros tempos
e a outros lugares: a história é um entrelaçar constante de tempos e espaços.
Partindo de uma dessas possibilidades e do exame das fontes, novas perguntas
surgirão na tentativa de compreensão do objeto de estudo. Com esse
procedimento, você inicia o aluno nos caminhos da produção do conhecimento
histórico, fazendo-o entender, pouco a pouco, o que queremos dizer com a frase
“a história é uma construção”.
Não
acreditamos que ele teria só um sentido ou só poderia ter tomado o sentido que
tomou. É preciso uma recusa inicial de um processo uno, homogêneo, linear e com
um único significado.
A
maior parte da documentação utilizada em história é escrita. O famoso dito “sem
documentos não há história” mostra que você só pode conhecer uma realidade
através dos testemunhos sobre essa mesma realidade.
O
trabalho com diferentes fonte é sempre indispensável, pois o entendimento de
uma realidade não se faz a partir de um documento isolado, embora a reflexão
possa se iniciar a partir de um único documento. As fontes trazem evidencias
que são incompletas, mas não inverídicas; eis por que é necessário ir se
levantando dados extraídos de diversas fontes, procurando relacioná-los entre
si, para maior aproximação da realidade.
É
preciso ficar claro que as fontes testemunham pensamentos e ações de pessoas
com os interesses mais diversos, mas sempre bastante concretos. Estas fontes
não falam por si mesmas; é importante formularmos as perguntas adequadas que
nos permitam levantar os interesses dos indivíduos e grupos que deixaram esse
registro. Os documentos não são meros fornecedores de dados; eles evidenciam as
ações de sujeitos do processo histórico no qual surgiram.
Ao se
ler um manual ou qualquer outro trabalho de história, é preciso saber que, por
trás dele, há o trabalho do historiador ao examinar seu objeto de estudo.
Portanto, para que o aluno produza alguma reflexão supõe-se que ele, primeiro,
compreenda o que leu, o que foi exposto pelo professor, o que se discutiu em
classe; segundo, que se estabeleçam relações entre tudo isso, talvez até
avançando além do que já foi dito por você e pelos colegas; terceiro, que
consiga colocar algo disso tudo por escrito.
Você
deve se preocupar em dar liberdade de expressão ao aluno, para provocar sua
participação concreta e sua reflexão. No decorrer do trabalho, na medida do
possível, as correções devem ser feitas. Tais recomendações se encaminham no
sentido de que o professor considere o aluno como alguém que pensa, que vive,
portanto intelectualmente ativo. O aluno deve exercer seu senso crítico, perder
o medo e a preguiça de fazê-lo, atitudes estas tão próprias de uma sociedade
que nos leva cada vez mais consumir como mercadoria o conhecimento pronto e
acabado. Muitas vezes, é o próprio aluno (até mesmo na universidade) que
oferece forte resistência em mudar essa situação, pressionando o professor a
dar somente aulas expositivas, recusando-se, portanto, ele mesmo, à leitura e à
reflexão.
A
avaliação nos parece o ponto mais espinhoso do ensino/aprendizagem, seja lá em
nível ela se dê. Como podemos avaliar o resultado de um curso? É pela produção
dos alunos, é pelos trabalhos apresentados, e não pela performance do professor
no nível de exposições brilhantes, relacionamento humano positivo, etc.
Você,
que ao mesmo tempo é professor de história e educador, precisa levar em conta
os avanços em relação tanto a uma reflexão histórica quanto ás atitudes
individuais dos alunos em classe. O objetivo último é despertar no aluno sua
capacidade de se expressar como sujeito de sua própria reflexão.
Bibliografia:
CABRINI, C. T alii. O ensino da história: revisão urgente.
São Paulo. Brasiliense, 1986. O desafio da iniciação histórica do aluno ou que
podemos lhe sugerir. Segunda Parte.Pág.45-68.