O autor aborda do ponto de vista histórico a preocupação inicial em recuperar o percurso da elaboração dos currículos de Histórias na escola destinada a formar as “elites” do país, que então, passava por transformações sociais marcadas pela urbanização crescente.
RESENHA
PÁTRIA, CIVILIZAÇÃO E TRABALHO
A HISTÓRIA NOS GINÁSIOS: CIVILIZAÇÃO E PROGRESSO
FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS
DO ENSINO DA HISTÓRIA
Prof Júlio Nascimento
Claudia Aparecida Damke Cypriani
Elderson Luciano Mezzomo
Eva Romana da Cunha
Novo Progresso - PA
Janeiro de 2011
BITTENCOURT, C. M. F. Pátria, civilização e trabalho: o ensino de
História nas escolas paulistas. São Paulo. Loyola. 1990. Capítulo 1: A história nos ginásios: civilização
e progresso
O autor aborda do ponto de vista
histórico a preocupação inicial em recuperar o percurso da elaboração dos
currículos de Histórias na escola destinada a formar as “elites” do país, que
então, passava por transformações sociais marcadas pela urbanização crescente.
O ensino de História na escola secundária sofreu mudanças significativas a
partir da Reforma Francisco de Campos (em 1931), que não fora apenas mais uma
reforma do ensino, seguindo-se às muitas outras que em nosso país vinham se
sucedendo de tão perto.
Há dois marcos: a reforma de
Francisco de Campos, como momento de mudanças fundamentais para o ensino de
Histórias e Guy de Holanda, ao realizar o corte para o início de sua análise, que
determinou uma periodização para a História educacional e com isso levantou
questões que merecem maior reflexão, uma vez que não encontrava respostas nos
elementos relacionados nos referidos textos.
A importância da Reforma
Francisco de Campos encontra-se na firmeza em assumir a finalidade do ensino
secundário, ao estabelecer definitivamente o caráter educativo desta fase
escolar, tida até aí como simples “corredor de passagem” para o curso superior.
Dentro destas perspectivas se explica a composição desse grau de ensino
enquanto espaço articulado com os diversos interesses dos grupos sociais no
poder, em nível nacional e estadual. Em princípio, o secundário era um grau de
ensino tutelado pela legislação federal, sendo que cada estado da federação
dependia de um poder centralizado definido pela Constituição de 1891 e
reiterado pela de 1934.
O discurso indica a argumentação
favorável a possibilitar ainda mais a expansão de escolas particulares livres
da fiscalização do Estado. O mal se encontrava em seu caráter preparatório e,
como está ainda marcado no primeiro deles, o fato agrava-se pela corrupção
existente quando da realização dos exames para o ingresso nas escolas
superiores.
A questão da péssima qualidade do
ensino, apontada por Licínio Cardoso, associava-se à lucratividade que os
exames parcelados forneciam aos particulares (e ainda hoje a elite continua se
apoderando). Epitáfio Pessoa de 1901 foi
uma tentativa de regulamentar o ensino obrigando as escolas particulares e
estaduais a se equiparem ao Colégio Pedro II, o que se fosse efetivada teria
implantado naquela época o regime de estudos seriados. A Reforma de 1901 foi
superada pela continuidade dos exames parcelados (vivia de parcelas de formação
com rendimento de lucros) desta forma constituiu a Reforma Rivadária Correia,
ao estabelecer a denominada liberdade do ensino. Assim se alterou com as
reformas educacionais de 1925, de 1931 e a de Capanema de 1942.
A questão da péssima
qualidade do ensino, apontado por Licínio Cardoso, associava-se à lucratividade
que os exames parcelados forneciam aos particulares, indicando os interesses de
determinados setores educacionais quando das reformas de ensino (ainda hoje a
elite continua estando se apoderando). O que se deve ressaltar é o sentido
apontado pelas críticas que se sucedem quanto ao insucesso ou falhas e abusos
da política.
Não havia intenção do
governo em concorrer com a iniciativa particular nesse setor, a manutenção das
escolas oficiais era coberta, em grande parte, pelas arrecadações de taxas
escolares, selos, contribuição obrigatórias pagas pelos alunos. A partir daí os
políticos começaram a se preocupar com a educação e alterou-se a Constituição
em vários artigos dando ênfase à educação que deve ser (ou é) direito de todos.
Democratizar o ensino
era, nesse sentido, ampliá-lo para determinada parcela da população, uma vez
que não havia alusão quanto a iniciativas no sentido de garantir o secundário
para o conjunto de adolescentes e nem sobre a gratuidade do mesmo, fazendo com
que todos tenham oportunidades. O governo começa a criar mecanismo para que
isso aconteça (pois toda a ação deve ser voltada a comunidade).
As estatísticas
apresentadas depois de 1930 generalizam as informações, tornando impossível
obter dados de todo o Estado de São Paulo (distinguindo-se as escolas
particulares).
A Igreja Católica foi
um setor combativo e presente em todos os momentos e discursões educacionais nesse
período, eram em grande número e com maior número de alunos. Em 1931, por
decreto, Francisco de Campos permitiu o ensino religioso nas escolas públicas. O
tema “ensino religioso na escola pública” foi o cerne do conflito entre intelectuais
católicos e os educadores que defendiam a escola laica. A Assembleia
Constituinte de 1934 foi palco de calorosos debates entre os representantes dos
grupos adversários, acabando por ser vitoriosa a tese da Igreja.
A qualidade do ensino
das escolas preparatórias não era questionada, principalmente porque os pais
podiam contar com as fraudes no decorrer dos exames servindo-se de
relacionamentos sociais e políticos. Francisco de Campos, ao contrario do seu
antecessor, cuidou de preservar a equiparação das escolas particulares,
garantido o apoio deste setor, estendendo-se assim, o “sucesso” da reforma de
1931. Surgiu a necessidade de mudança da mentalidade dos pais quanto aos cursos
e exames parcelados com a reforma de Francisco de Campos.
A reforma de
Francisco Campos manteve a seletividade dos alunos, contendo, inclusive, a
demanda pelo ensino superior com o currículo extenso e um rígido sistema de
avaliação que deveria impedir abusos ou fraudes por parte de escolas
particulares.
O currículo imposto por
ele encontrou uma série de obstáculos. Defensor da escola renovada, seu
currículo era preocupado em preparar o aluno para o ensino superior. É
importante ressaltar que o repensar da cultura humanística fundada sobre a
tradição greco-romana “não se limitava aos reformistas de São Paulo”.
As discussões sobre o
currículo continuaram após 1931, com momentos empolgantes na Assembleia
Constituinte de 1934 e com a elaboração do Plano Nacional de Educação. Até
então, o currículo não permitia o aluno transferir-se de um curso para outro. Em
1931 ocorreu a multiplicação das disciplinas históricas em todas as séries,
sendo que história, geografia, português, matemática e desenho estavam
presentes em todas.
O programa de ensino
de história proposto pelo ministro de educação havia sido elaborado por pessoas
desconhecidas. O professor deveria trabalhar a história baseada em datas e
nomes. A história é a atualidade do passado, uma vez que as técnicas
metodológicas são determinantes no processo de adaptar o aluno a vivência
democrática. O indivíduo aprende a partilhar com os outros a sua experiência, a
ser julgado pelos outros, o ensino devia ser voltado à realidade do aluno.
Um dos métodos de
ensino de história que o professor Serrano defendeu foi o cinema como recurso
didático, e por ser um processo de decoreba julgavam os professores como um dos
fatores de insucesso da reforma educacional. Desse período têm-se poucas
informações sobre a formação dos professores de história.
Sem formação adequada
dos professores foi uma tarefa difícil enfrentada pelas autoridades
educacionais, pois com o crescimento de números de ginásios, tanto particulares
e oficiais, e assim complicava as condições de trabalho. O professor deveria se
preocupar em combater o ceticismo tão comum na mocidade, a implantação do
entusiasmo pelo futuro do país, o respeito às leis e às autoridades
constituídas, o desejo de ser útil à Pátria.
Para Oliveira Lima a
história é o registro da vida do mundo civilizado. Nesse sentido, a própria
história dos ginásios brasileiros trazem algumas reflexões para o presente e o futuro
da educação. É relevante destacar as lutas de classe, especialmente elite que
visava uma boa formação de seus filhos em detrimento à população em geral.
Nesse ínterim, percebe-se que o propósito, ou seja, a intenção que se dá à
educação influencia diretamente a política da mesma. Hoje se pretende formar
cidadãos que exerçam plenamente seus direitos e deveres democráticos (e não
apenas mão de obra). Propõem-se, também, educação para todos. Se estas,
realmente são as intenções, ou propósitos que norteiam a política nacional de
educação, quais devem ser então as medidas necessárias à consecução deste fim?
Uma educação
democrática (para todos) deve refletir uma prática pedagógica adaptada, abordar
temas e utilizar metodologias que realmente consigam atender esta demanda. Esta
conquista não será possível, a menos que sejam valorizados os educadores, pois
cabe a eles tal tarefa. Esta valorização passa por dois caminhos: valorização
salarial e formação continuada. Outrossim, é imprescindível à sociedade (pais,
alunos, políticos e profissionais da educação), refletirem a história e verem a
si mesmo como agentes desta história!